Aprenda a ouvir o que o seu carro está dizendo
Todo carro se comunica com o motorista. Ou pelo menos tenta. Especialmente quando as coisas não andam bem. Ele avisa quando o amortecedor está gasto ou quando o pneu precisa de calibragem. Você só precisa saber ouvi-lo.
Para ajudar nessa relação desgastada entre automóvel e proprietário, em vez de psicólogos ou terapeutas, fomos buscar os conselhos de César Urnhani, piloto de testes da Pirelli, e Gerson Burin, técnico em segurança viária do Cesvi Brasil, que ensinam dicas preciosas para reconhecer quais são as principais mensagens transmitidas por seu carro.
Alinhamento e balanceamento
Do mesmo modo que o homem indica à máquina o que ele quer através do volante, a máquina, por mais submissa que seja, sinaliza suas carências.
O recado mais fácil de entender é quando o volante está torto. Seu carro está dizendo a você que é preciso refazer o alinhamento da direção. Nesse caso, em geral o volante apresenta vibração, às vezes até em baixa velocidade.
Na estrada, o veículo fica instável e a direção quer se mexer sozinha. Isso mostra que, além do alinhamento, também é necessário balancear as rodas.
Para fugir dessa, a dica é evitar ao máximo impactos em buracos e lombadas irregulares e não descuidar da revisão periódica, fazendo o serviço de alinhamento de direção e de balanceamento dos pneus pelo menos a cada 10 000 km ou quando receber os sinais acima.
Cambagem
Outro recado que o volante pode mandar ao motorista é com relação à cambagem. Para quem não sabe exatamente o que é, a cambagem se refere ao grau de inclinação das rodas, tanto quando vistas de frente como quando vistas de cima.
E para cada modelo há uma medida exata.
Assim como ocorre com o alinhamento e o balanceamento, dá para perceber que a cambagem está incorreta por meio de uma vibração no volante e da falta de estabilidade do veículo.
Mas a melhor maneira para se certificar de que o problema está mesmo aí é observar se também ocorre o desgaste irregular na banda de rodagem. Se houver, vá correndo para uma oficina.
Amortecedores
O carro também se comunica com o dono por meio de sons. Um exemplo é quando os amortecedores estão com sua vida útil comprometida. Ao passar por um piso irregular ou uma lombada, ouvimos o som de algo batendo na suspensão. Achou que é normal? Então você passa por outra lombada e escuta de novo a batida seca.
Há uma grande chance de ser amortecedor cansado. Mas ele também manda outro aviso sonoro nessa situação: os pneus cantam mesmo em velocidades mais baixas.
Como a maioria dos problemas que envolvem a suspensão, os primeiros efeitos colaterais são a perda de estabilidade e o desgaste prematuro dos pneus.
Não é possível estipular um prazo exato para a troca dos amortecedores, pois varia conforme o modelo, o terreno percorrido, o nível de carga e o modo de dirigir. Na dúvida, vá a uma oficina especializada em suspensão e faça uma checagem rápida.
Calibragem
Seu automóvel teima em ir para um lado e você precisa estar corrigindo sempre a trajetória? Sente que a estabilidade piorou quando está acima de 60 km/h? Então pare no primeiro posto de combustível e calibre os pneus, pois o problema está neles. Caso os pneus estejam mais vazios do que deveriam, eles vão cantar mais nas curvas e, como consequência, causará o aumento do consumo de combustível.
Porém, se a calibragem estiver acima do ideal, haverá um desgaste irregular nos pneus, especialmente no centro da banda de rodagem. Para não cair nessa roubada, é só criar uma rotina: faça calibragem dos pneus a cada uma ou duas vezes que for ao posto abastecer o tanque.
Molas
Possuem vida útil superior aos amortecedores e têm uma responsabilidade adicional: suportar o peso da carroceria. Portanto, no caso de desgaste excessivo, o risco de acidente e danos à suspensão é ainda maior.
As mensagens que elas mandam começam com um carro instável, que, ao passar por obstáculos e pisos mais irregulares, balança de forma intensa, vibrando demais, como se fosse numa picape antiga, que pula sem parar.
Além disso, a cambagem começa a se deteriorar com mais rapidez, iniciando um efeito dominó em outros itens da suspensão. Como os amortecedores, não há quilometragem ideal para substituí-las. Só mesmo o mecânico pode dizer se chegou a hora da troca.
Combustível adulterado
De repente você ouve que o motor está “grilando”. Pois bem, se ao dar a partida ou na arrancada se ouve esse ruído agudo metálico, pode pensar em combustível adulterado.
Esse som é característico do momento em que é injetado combustível nas câmaras de combustão. Com a gasolina ou o álcool de má qualidade, ele força essa injeção, emitindo um ruído mais agudo.
Junto desse sintoma, o veículo começa a apresentar outros sinais característicos, como falhas no funcionamento do motor, marcha lenta irregular e perda de potência. Aqui vale a velha e boa dica: abastecer sempre em um posto de confiança, conhecido, e fugir de preços muito abaixo da média.
Velas
Quando elas estão gastas ou danificadas, seu carro manda avisos bem claros. O motor começa a engasgar, perde potência ao acelerar e até apaga repentinamente.
Com o funcionamento irregular, o motor acaba trabalhando em temperaturas maiores e consumindo mais combustível. Assim que perceber algo fora do normal com o motor, vá logo ao seu mecânico de confiança.
A troca das velas é um serviço barato. O preço, incluindo a mão de obra, sai por menos de 80 reais, para hatch popular. O ideal é não ter de sentir esses sintomas para fazer o serviço.
Em geral recomenda-se que se troquem as velas a cada 20.000 km, mas na dúvida siga sempre a recomendação do manual do proprietário.